A ERA DA AUTOMAÇÃO: ENTRE O BIG BROTHER E A BIG DATA

Augur.blog
16 min readJun 10, 2024

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Recomendações sociológicas para se evitar uma distopia orwelliana em pleno Século XXI

ABSTRATO: voltamos a 1984?

Em que medida o novo ciclo tecnológico altera o funcionamento básico das economias e sociedades dos países em desenvolvimento e como lidar com os principais problemas sociais gerados pelos avanços tecnológicos?

Em “Digital Sociology,” de Deborah Lupton, o capítulo 2, intitulado “Theorising Digital Society,” aprofunda-se nas perspectivas teóricas sobre como as tecnologias digitais influenciam e são influenciadas pela sociedade. Lupton navega por diversas teorias sociológicas e culturais para entender melhor o impacto e as implicações das tecnologias digitais. Entre as principais perspectivas teóricas, a noção de Economia Global da Informação é central. Para a autora, a economia atual é amplamente baseada na produção, circulação e consumo de informações digitais, onde a informação se tornou a nova mercadoria valiosa no mercado global.

Esse cenário evoca as sombrias advertências de George Orwell em “1984”, onde o poder absoluto do Big Brother dependia de uma vigilância constante e onipresente. No mundo contemporâneo, a concentração de poder em corporações que controlam grandes volumes de dados, como Google e Facebook, pode ser vista como uma forma moderna de “capitalismo de vigilância”. Estas empresas acumulam riqueza e influência ao extrair e comercializar dados pessoais, consolidando um novo tipo de poder que opera através de algoritmos invisíveis e redes digitais.

Na era digital, o poder é fluido e distribuído, distanciando-se das formas tradicionais de poder bélico. Assim como no universo de Orwell, onde o controle é mantido através do monitoramento constante dos cidadãos, a governamentalidade digital descrita por Michel Foucault mostra como o poder moderno é exercido através da vigilância e controle digital. Algoritmos e plataformas digitais tornaram-se as novas armas, capazes de moldar comportamentos e opiniões de maneiras sutis, mas poderosas, que se sobrepõem à liberdade individual e autonomia.

Utilizando a teoria do ator-rede (ANT) de Bruno Latour, podemos conjecturar que os objetos digitais são co-produzidos por atores humanos e não-humanos, influenciando e sendo influenciados pelas práticas sociais e culturais. Esta inter-relação entre tecnologia e sociedade carrega valores e interesses específicos que refletem as estruturas sociais que lhes dão forma. A exemplo do controle totalitário do Big Brother, as tecnologias digitais contemporâneas têm o potencial de reforçar desigualdades sociais e sistemas de poder, se não forem rigorosamente analisadas e reguladas.

A combinação de forças tecnológicas e econômicas amplifica o dualismo produtivo nos países em desenvolvimento, exacerbando a distância entre áreas metropolitanas avançadas e regiões rurais marginalizadas. Este movimento “neocolonialista” tecnológico perpetua um ciclo vicioso de estagnação, baixa produtividade e instabilidade do crescimento. A intervenção sociológica é crucial para compreender as dinâmicas sociais que aprofundam as disparidades entre ricos e pobres e para articular as bases de uma economia socialmente e ambientalmente justa.

Assim, a atuação dos Estados e governos na articulação de investimentos, expansão da demanda e redistribuição de recursos econômicos e intelectuais tornou-se ainda mais urgente. O setor público deve atuar como pedra fundamental para reduzir as assimetrias geradas pela nova estrutura de governança global e poder, que tem impulsionado a desigualdade em velocidade alarmante. Para evitar uma distopia Orwelliana, é imperativo implementar políticas que promovam a inclusão digital, a capacitação da força de trabalho e o desenvolvimento de infraestrutura, garantindo que a automação beneficie toda a sociedade.

Desenvolvimento social e novo ciclo tecnológico:

Como as diferenças sociais e geográficas influenciam o acesso e uso de tecnologias digitais, e quais são as implicações dessas variações para a inclusão digital e a justiça social?

O novo ciclo tecnológico, impulsionado pela digitalização e pela automação, está remodelando profundamente as estruturas econômicas e sociais em nível global. No entanto, as diferenças sociais e geográficas desempenham um papel crucial na determinação do acesso e do uso dessas tecnologias. Em países em desenvolvimento, a disparidade no acesso a dispositivos digitais, infraestrutura de internet e educação tecnológica cria um fosso digital que agrava as desigualdades existentes. Essa lacuna digital não só limita as oportunidades econômicas e educacionais para amplos segmentos da população, mas também perpetua um ciclo de exclusão social e marginalização.

A desigualdade digital é intensificada pelas variações geográficas, onde áreas urbanas frequentemente têm melhor acesso a tecnologias avançadas em comparação com regiões rurais ou remotas. Essa disparidade se traduz em diferenças significativas na qualidade de vida, com comunidades urbanas se beneficiando de melhores serviços de saúde, educação e oportunidades de emprego facilitadas pelo acesso à internet e a ferramentas digitais. Por outro lado, as regiões rurais permanecem desconectadas, enfrentando desafios como falta de infraestrutura e altos custos de conectividade, o que impede a inclusão digital e a justiça social. Para resolver essas questões, é necessário um investimento substancial em infraestrutura digital e políticas públicas que promovam a equidade no acesso às tecnologias.

As implicações dessas variações para a inclusão digital e a justiça social são profundas. A falta de acesso equitativo às tecnologias digitais pode perpetuar a pobreza e a exclusão social, limitando a participação dos indivíduos na economia digital emergente e nos processos democráticos. Além disso, a ausência de alfabetização digital e habilidades tecnológicas adequadas marginaliza ainda mais os grupos vulneráveis, dificultando sua capacidade de competir em um mercado de trabalho cada vez mais digitalizado.

  1. Ética dos Algoritmos: A ética dos algoritmos refere-se à responsabilidade moral e às implicações sociais do uso de algoritmos para tomar decisões automatizadas. Nos países em desenvolvimento, os algoritmos muitas vezes são adotados sem considerar suficientemente os impactos éticos, o que pode resultar em vieses e discriminação. Algoritmos treinados em dados enviesados podem perpetuar ou até amplificar desigualdades sociais existentes, afetando desproporcionalmente grupos marginalizados. Para garantir justiça e equidade, é essencial implementar práticas transparentes e auditáveis, além de regulamentações rigorosas que assegurem a responsabilidade algorítmica.
  2. Divisão do Trabalho: A divisão do trabalho na era digital é profundamente influenciada pelas tecnologias automatizadas e digitais, que reestruturam os empregos e as funções econômicas. Nos países em desenvolvimento, essa reestruturação pode levar tanto a oportunidades quanto a desafios. Enquanto a automação pode substituir trabalhos manuais e repetitivos, criando uma demanda por habilidades mais técnicas e avançadas, também pode resultar em desemprego para aqueles que não possuem as competências necessárias. A adaptação a essa nova divisão do trabalho requer investimentos significativos em educação e treinamento profissional para capacitar a força de trabalho para os empregos do futuro.
  3. Uso de Dados: O uso de dados na economia digital envolve a coleta, análise e aplicação de grandes volumes de informações para melhorar a eficiência, personalizar serviços e tomar decisões informadas. Nos países em desenvolvimento, o acesso limitado a tecnologias e infraestrutura digital pode restringir a capacidade de coletar e utilizar dados de forma eficaz. Além disso, a falta de regulamentações robustas pode levar ao uso inadequado ou à exploração dos dados pessoais dos cidadãos. Para maximizar os benefícios do uso de dados e minimizar os riscos, é crucial desenvolver políticas de proteção de dados que garantam a privacidade e a segurança das informações.
  4. Desigualdade: As tecnologias digitais têm o potencial de reduzir ou exacerbar desigualdades sociais e econômicas. Em países em desenvolvimento, a falta de acesso equitativo às tecnologias digitais pode ampliar as disparidades existentes. A desigualdade no acesso a dispositivos, conectividade à internet e educação digital significa que aqueles em áreas rurais ou de baixa renda podem ficar ainda mais marginalizados. Políticas que promovam a inclusão digital são essenciais para garantir que todos os segmentos da população possam beneficiar-se das oportunidades oferecidas pelas tecnologias digitais.
  5. Acumulação de Capital: A acumulação de capital no contexto do novo ciclo tecnológico é frequentemente concentrada nas mãos de grandes corporações tecnológicas que dominam o mercado digital. Esta concentração de riqueza pode intensificar as desigualdades econômicas, especialmente nos países em desenvolvimento, onde a infraestrutura digital pode ser menos desenvolvida e o acesso ao capital mais limitado. Incentivos governamentais, financiamento acessível e apoio a startups tecnológicas locais são necessários para distribuir mais equitativamente os benefícios econômicos da digitalização.
  6. Liberdade Individual: A liberdade individual pode ser significativamente impactada pelas tecnologias digitais, especialmente através da vigilância e do controle de dados pessoais. Em muitos países em desenvolvimento, a implementação de tecnologias de vigilância sem salvaguardas adequadas pode comprometer a privacidade e os direitos humanos. É crucial que a adoção de tecnologias digitais seja acompanhada por regulamentações que protejam a liberdade individual e garantam que os dados pessoais sejam usados de maneira ética e responsável.
  7. Vigilância: A vigilância digital, facilitada por tecnologias avançadas de monitoramento e coleta de dados, pode ter consequências significativas para a privacidade e a liberdade individual. Nos países em desenvolvimento, onde as estruturas legais e regulatórias podem ser fracas, a vigilância pode ser usada para controlar e reprimir dissidências políticas e sociais. O estabelecimento de regulamentações claras e a promoção da transparência na utilização de tecnologias de vigilância são essenciais para proteger os direitos dos cidadãos e evitar abusos de poder.
  8. Conhecimento: A produção e disseminação de conhecimento são transformadas pelas tecnologias digitais, que podem democratizar o acesso à informação ou, inversamente, criar novas formas de exclusão. Nos países em desenvolvimento, o acesso limitado à internet e a recursos educacionais digitais pode restringir as oportunidades de aprendizado e inovação. Para promover o desenvolvimento social, é fundamental investir em infraestrutura digital e programas educacionais que ampliem o acesso ao conhecimento para todos os segmentos da população.
  9. Políticas Públicas: Políticas públicas eficazes são essenciais para garantir que os benefícios das tecnologias digitais sejam amplamente distribuídos e que as desigualdades sejam mitigadas. Nos países em desenvolvimento, isso inclui a criação de marcos regulatórios que protejam a privacidade e promovam a inclusão digital, além de investimentos em infraestrutura e educação digital. Políticas que incentivem a inovação e o empreendedorismo tecnológico também podem ajudar a fomentar um ecossistema digital dinâmico e inclusivo.

Impactos econômicos

Como as externalidades do novo ciclo tecnológico alteram os padrões tradicionais de acumulação de capital e divisão do trabalho?

A automação, impulsionada por robôs e inteligência artificial (IA), está transformando profundamente as estruturas econômicas globais. Nos países em desenvolvimento, essa mudança traz implicações complexas. Do ponto de vista contábil e econômico, a automação pode reduzir custos operacionais (OPEX) e substituir esses custos por investimentos de capital (CAPEX). Contudo, essa transição exige um investimento inicial significativo, bem como o acesso ao capital econômico e intelectual. A automação pode reduzir significativamente os custos operacionais ao diminuir a dependência do trabalho humano para processos repetitivos e padronizados, resultando em menor gasto com salários, benefícios e possíveis custos relacionados a erros humanos.

A transição para um modelo mais automatizado implica um aumento nos custos de capital, com investimentos em máquinas, software e infraestrutura tecnológica. Embora esses custos iniciais sejam elevados, os benefícios de longo prazo podem incluir maior eficiência e produtividade. Para implementar a automação, os países em desenvolvimento precisam de acesso a capital financeiro e intelectual. Isso pode exigir acumulação primária de capital, investimento estrangeiro direto (IED) ou acesso a financiamentos e empréstimos internacionais. Além do capital financeiro, é crucial investir em capacitação e educação para desenvolver as habilidades necessárias para operar e manter tecnologias avançadas. Isso inclui treinamento técnico e programas educacionais focados em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

A automação pode levar ao desemprego tecnológico, onde os trabalhadores são substituídos por máquinas. Em economias com setores industriais significativos, isso pode causar deslocamento de trabalhadores e aumento do desemprego. Para mitigar esses efeitos, é fundamental implementar programas de requalificação e treinamento para ajudar os trabalhadores a transitar para novos empregos em setores que ainda dependem da intervenção humana, como serviços de alta qualificação e indústrias criativas. A automação pode aumentar a produtividade e a eficiência, tornando os produtos mais competitivos no mercado global, ajudando os países em desenvolvimento a acelerar seu crescimento econômico e a se integrar melhor nas cadeias de valor globais. Embora alguns empregos sejam eliminados, a automação pode criar novos tipos de trabalho em áreas como manutenção de robôs, desenvolvimento de software, análise de dados e gestão de sistemas automatizados.

Os benefícios da automação tendem a se concentrar nas mãos de quem já possui capital, enquanto os trabalhadores menos qualificados podem enfrentar desemprego prolongado. Isso pode ser um desafio significativo para muitos países em desenvolvimento.

Impactos nas instituições políticas

Como a redistribuição do poder impacta nos modelos políticos atuais?

A economia global da informação, conforme descrita por Lupton, é amplamente baseada na produção, circulação e consumo de informações digitais. As corporações que controlam grandes volumes de dados, como Google e Facebook, tornaram-se centrais nesta nova economia. Zuboff caracteriza essas empresas como pilares do “capitalismo de vigilância”, onde o poder reside na capacidade de coletar, analisar e monetizar dados pessoais em larga escala. Esse controle de dados conferiu a essas corporações um poder sem precedentes, comparável ao controle de recursos naturais nas eras industriais anteriores. A concentração de capital e influência em um pequeno número de empresas tecnológicas cria uma nova elite global que exerce influência significativa sobre a economia e a política global.

O conceito de governamentalidade digital, inspirado pelos trabalhos de Foucault, é crucial para entender a redistribuição de poder. Na era digital, o poder é exercido não apenas através de meios tradicionais de coerção, mas também por meio de tecnologias de vigilância e controle algorítmico. Governos e corporações utilizam vastas redes de vigilância digital para monitorar comportamentos, prever tendências e influenciar decisões individuais e coletivas. Este tipo de poder é fluido e distribuído, operando através de redes digitais complexas que se sobrepõem à liberdade individual e à autonomia. Os algoritmos, muitas vezes opacos, moldam as informações que recebemos e, consequentemente, nossas percepções e ações políticas.

As tecnologias digitais também influenciam diretamente os modelos políticos atuais, criando novas formas de mobilização e participação cívica. As redes sociais, por exemplo, tornaram-se plataformas poderosas para a organização de movimentos sociais e protestos políticos. Movimentos como a Primavera Árabe e o Black Lives Matter demonstram como as tecnologias digitais podem ser utilizadas para desafiar o status quo e mobilizar grandes grupos de pessoas rapidamente. No entanto, essas mesmas tecnologias também podem ser usadas para disseminar desinformação e manipular eleições, como evidenciado pela interferência russa nas eleições presidenciais dos EUA em 2016.

A redistribuição de poder provocada pelo novo ciclo tecnológico apresenta desafios significativos para a democracia. A capacidade de coletar e manipular dados em larga escala pode minar a confiança nas instituições democráticas e nos processos eleitorais. A desinformação disseminada através de redes sociais pode polarizar sociedades e enfraquecer o debate público racional. Além disso, a concentração de poder em corporações tecnológicas pode levar à captura regulatória, onde estas empresas influenciam políticas e regulamentações a seu favor, dificultando a implementação de medidas que protejam o interesse público.

O papel da sociologia e os impactos na metodologia sociológica

Quais são as implicações gerais das transformações digitais para a sociologia e como a disciplina deve se adaptar para abordar os desafios e oportunidades da era digital?

Deborah Lupton explora as novas metodologias e técnicas que emergem com o advento das tecnologias digitais, enfatizando a importância de métodos inovadores e criativos para a coleta e análise de dados digitais. Embora a expansão da vigilância digital pode comprometer a privacidade dos cidadãos e ser usada para controle social. Governos e corporações em países em desenvolvimento podem utilizar tecnologias de vigilância para monitorar e restringir a liberdade de expressão, a autora enfatiza ainda a necessidade de uma abordagem crítica para analisar as promessas e os perigos do big data, incluindo questões de privacidade, vigilância e poder.

Deborah Lupton discute como a coleta, análise e uso de grandes volumes de dados digitais estão transformando a forma como entendemos e interagimos com o mundo. Ela enfatiza a necessidade de uma abordagem crítica para analisar as promessas e os perigos do big data, incluindo questões de privacidade, vigilância e poder.

No entanto, a falta de acesso a dispositivos digitais e conectividade de internet pode perpetuar ou aumentar as desigualdades educacionais. Investimentos em infraestrutura e programas de inclusão digital são essenciais para mitigar esses efeitos. Já a globalização digital pode levar a uma hibridização cultural, onde influências globais e locais se misturam. Isso pode enriquecer as culturas locais, mas também pode levar à erosão de tradições culturais. A construção de identidades digitais permite que os indivíduos se conectem e expressem suas identidades de novas maneiras. Nos países em desenvolvimento, isso pode fortalecer movimentos de identidade e empoderamento social.

Como lidar com problemas sociais gerados pelos avanços tecnológicos

Lidar com os problemas sociais gerados pelos avanços tecnológicos exige uma abordagem multifacetada que inclui a implementação de uma renda básica universal, a inserção ativa da sociedade civil na política, a redução da influência das grandes corporações e o fortalecimento do papel da academia sociológica crítica. Essas estratégias podem ajudar a garantir que os benefícios da revolução digital sejam amplamente distribuídos, promovendo uma sociedade mais justa e equitativa na era da automação e da inteligência artificial.

A introdução de uma renda básica universal (RBU) é uma das soluções mais discutidas para mitigar os impactos negativos da automação e da IA no mercado de trabalho. A RBU garante um rendimento mínimo a todos os cidadãos, independentemente de sua situação de emprego, proporcionando segurança financeira em um cenário de desemprego tecnológico. A implementação de uma RBU pode ajudar a reduzir a pobreza e a desigualdade, ao mesmo tempo que permite que as pessoas busquem educação e treinamento para se adaptar às novas exigências do mercado de trabalho.

Os defensores da RBU argumentam que ela pode estimular a economia ao aumentar o poder de compra das pessoas e fomentar a inovação, uma vez que os indivíduos teriam a segurança financeira para empreender e explorar novas oportunidades. No entanto, críticos apontam para os desafios de financiamento e para o risco de desincentivar o trabalho. Estudos de caso, como o projeto piloto de RBU em Finlândia, fornecem insights valiosos sobre os benefícios e limitações dessa abordagem. Para que a RBU seja eficaz, é essencial que seja acompanhada de políticas complementares, como programas de requalificação e educação continuada.

A inserção ativa da sociedade civil na política é crucial para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem toda a população e não apenas uma minoria privilegiada. A participação cidadã pode ser facilitada através de plataformas digitais que promovem a transparência, a accountability e a inclusão nas decisões políticas. Ferramentas como consultas públicas online, orçamentos participativos e petições digitais permitem que os cidadãos influenciem diretamente as políticas que afetam suas vidas.

Além disso, movimentos sociais e organizações não governamentais desempenham um papel fundamental na advocacia de políticas que promovam a equidade e a justiça social na era digital. A mobilização da sociedade civil pode pressionar os governos a implementar regulamentos que protejam os direitos dos trabalhadores e consumidores, promovam a inclusão digital e garantam a privacidade e a segurança dos dados pessoais. Exemplos como o movimento de neutralidade da rede nos EUA mostram como a ação coordenada da sociedade civil pode influenciar políticas importantes no campo das tecnologias digitais.

A crescente concentração de poder nas mãos de grandes corporações tecnológicas é uma preocupação central no debate sobre os impactos dos avanços tecnológicos. Para reduzir essa influência, é necessário implementar regulamentos antitruste que promovam a concorrência e evitem monopólios. Medidas como a separação das funções das grandes empresas de tecnologia, a regulamentação da coleta e uso de dados, e a imposição de transparência nos algoritmos utilizados podem ajudar a democratizar o acesso às tecnologias e a distribuir mais equitativamente seus benefícios.

Além disso, políticas que incentivem a inovação em startups e pequenas empresas tecnológicas podem diversificar o mercado e reduzir a dependência de poucas corporações dominantes. Programas de apoio ao empreendedorismo, financiamento acessível e parcerias público-privadas são algumas das estratégias que podem fomentar um ecossistema tecnológico mais inclusivo e competitivo.

Outrossim, a academia sociológica crítica tem um papel essencial na análise e na crítica dos impactos sociais dos avanços tecnológicos. Os sociólogos críticos investigam como as tecnologias digitais perpetuam ou desafiam as desigualdades sociais, analisando os efeitos da automação, da vigilância digital e da economia de dados na vida cotidiana. Eles também exploram as dinâmicas de poder e as implicações éticas associadas ao uso de tecnologias emergentes.

Conclusões: é preciso ler Orwell

Este trabalho explora como o novo ciclo tecnológico altera o funcionamento básico das economias e sociedades, destacando as disparidades criadas e exacerbadas por essas transformações. A automação, a digitalização e a concentração de poder em grandes corporações tecnológicas têm gerado uma série de problemas sociais, incluindo o aumento da desigualdade, o desemprego tecnológico e a vigilância digital. Abordar esses desafios requer uma abordagem multifacetada que inclui a implementação de uma renda básica universal, a inserção ativa da sociedade civil na política, a redução da influência das grandes corporações e o fortalecimento do papel da academia sociológica crítica.

A renda básica universal (RBU) emerge como uma solução potencial para mitigar os impactos negativos da automação no mercado de trabalho. Assim como o personagem Winston em “1984” busca um sentido de segurança em meio a uma sociedade opressiva, a RBU pode proporcionar segurança financeira em um cenário de desemprego tecnológico, reduzindo a pobreza e a desigualdade. Estudos de caso, como o piloto de RBU na Finlândia, sugerem que a RBU pode estimular a economia e fomentar a inovação. No entanto, sua implementação eficaz deve ser acompanhada de políticas complementares, como programas de requalificação e educação continuada, para garantir que os trabalhadores estejam preparados para as novas exigências do mercado de trabalho.

A participação ativa da sociedade civil na política é fundamental para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem toda a população. Ferramentas digitais que promovem a transparência e a inclusão podem aumentar a participação cidadã e influenciar diretamente as políticas que afetam suas vidas, contrabalançando o controle centralizado visto em “1984”. Movimentos sociais e organizações não governamentais desempenham um papel crucial na advocacia de políticas que promovam a equidade e a justiça social. Exemplos como o movimento de neutralidade da rede nos EUA demonstram a eficácia da ação coordenada da sociedade civil, semelhante aos esforços de resistência contra a opressão totalitária.

A crescente concentração de poder nas mãos de grandes corporações tecnológicas é uma preocupação central, reminiscente da vigilância constante do Big Brother. Implementar regulamentos antitruste que promovam a concorrência e evitem monopólios é essencial para democratizar o acesso às tecnologias. Medidas como a separação das funções das grandes empresas de tecnologia, a regulamentação da coleta e uso de dados e a imposição de transparência nos algoritmos utilizados podem ajudar a distribuir mais equitativamente os benefícios das tecnologias digitais. Incentivos governamentais, financiamento acessível e apoio a startups tecnológicas locais também são necessários para diversificar o mercado e reduzir a dependência de poucas corporações dominantes.

A academia sociológica crítica desempenha um papel vital na análise e crítica dos impactos sociais dos avanços tecnológicos. Pesquisadores investigam como as tecnologias digitais perpetuam ou desafiam as desigualdades sociais, explorando as dinâmicas de poder e as implicações éticas associadas ao uso de tecnologias emergentes. Futuras pesquisas devem explorar como políticas de inclusão digital podem ser eficazmente implementadas em diferentes contextos socioeconômicos, investigar as melhores práticas para a regulação da vigilância digital, e desenvolver estratégias de requalificação para trabalhadores deslocados pela automação.

Em resumo, lidar com os problemas sociais gerados pelos avanços tecnológicos requer uma abordagem abrangente e coordenada, que ressoe as advertências de George Orwell em “1984”. A implementação de uma renda básica universal, a participação ativa da sociedade civil na política, a redução da influência das grandes corporações e o fortalecimento do papel da academia sociológica crítica são passos essenciais para garantir que os benefícios da revolução digital sejam amplamente distribuídos. A promoção da justiça social e da inclusão digital deve ser um objetivo central, assegurando que todos os membros da sociedade possam prosperar na economia digital. Assim, evitaremos que nossa realidade se aproxime da distopia orwelliana, garantindo que a tecnologia sirva para emancipar, e não para oprimir.

BIBLIOGRAFIA:

LUPTON, Deborah. Digital Sociology. Londres: Routledge, 2014.

ORWELL, George. 1984. Nova York: Harcourt, Brace & World, 1949.

ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. Nova York: PublicAffairs, 2019.

LATOUR, Bruno. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford: Oxford University Press, 2005.

FOUCAULT, Michel. Surveiller et punir: Naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1975.

KANGAS, Olli; JAUHIANEN, Sakari; SIMANAINEN, Markus; YLIKÄNNÖ, Minna. The Basic Income Experiment 2017–2018 in Finland: Preliminary Results. Helsinki: Ministry of Social Affairs and Health, 2019. Disponível em: https://julkaisut.valtioneuvosto.fi/handle/10024/161351. Acesso em: 5 jun. 2024.

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